sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Começar um grande projeto. Agora.

Nick Vujicic. Eis o cara. Sem pernas, sem braços, ele fala para uma plateia de jovens sobre motivação, superação e, principalmente, sobre não desistir diante das dificuldades. “Se eu falhar e desistir”... – ele diz, enquanto se remexe deitado. “Se eu falhar, mas tentar novamente... e novamente”. Ele então se contorce todo e se levanta. Assim oferece à plateia já bastante emocionada o exemplo da transformação do discurso em prática. Ele fica de “pé”, sem ter pernas nem braços, e na frente de todos. Comovente e inspirador.
Quantas pessoas querem nos motivar? A considerar os e-mails que recebo... centenas, milhares. Se considerarmos os livros de autoajuda, então? Os exemplos não são poucos. Realmente há pessoas bem intencionadas querendo nos transmitir toda a sorte de exemplos edificantes, de mensagens inspiradoras. Menos mal que seja assim. Em algum momento alguém pode fazer bom proveito do que eles dizem, falam, ensinam.
O interessante é que eu conhecia o vídeo de cerca de seis minutos. Recebera da minha filha, que, por sua vez, recebera de uma coleguinha, que, por sua vez... e assim por diante, nessa rede virtual colossal da internet. Gostei da mensagem. Adorei a ideia de minha filha assistir àquele tipo de apresentação. Mas eis que, depois de dar voltas no mundo, anos depois, a mesma mensagem me chega novamente. Não desconfiava que fosse a mesma. O remetente é amigo que vejo muito raramente, mas que sempre me manda bons e confiáveis e-mails. Ao abrir o arquivo de vídeo: Nick Vujicic. O mesmo cara. Sem braços e sem pernas. Falando para as mesmas crianças, usando os mesmos recursos para comover e convencer a todos que vale a pena lutar pelos nossos ideais. E que todos somos, pensando bem direitinho e no final das contas, uma obra prima de Deus.
Ocorre que desta vez a mensagem de Nick Vujici encontrou terreno fértil. Diferentemente do que acontecera na primeira vez, agora eu me emocionava profundamente. Estava pensando em começar um projeto e lamentando muito o fato de sempre “começar só na imaginação”. Tantos projetos, ideias. Mas nada ia pra frente. Culpa de ninguém. Apenas de mim mesmo.
A mensagem dele poderia ser sintetizada assim: “Ei, cara, levanta daí! O que você está esperando? Você já tem tudo e não pode reclamar de nada. Não desista!” E o que acontece com aqueles que nem sequer tentam? Bem, realmente com esses nunca vai acontecer nada...

Bem, o tal vídeo era o que eu precisava. Comecei um grande projeto hoje!
São 16h49m do dia 2 de dezembro de 2011.  

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Poesia

A flor e a náusea
de Carlos Drummond de Andrade

Preso à minha classe e a algumas roupas,
Vou de branco pela rua cinzenta.
Melancolias, mercadorias espreitam-me.
Devo seguir até o enjoo?
Posso, sem armas, revoltar-me'?

Olhos sujos no relógio da torre:
Não, o tempo não chegou de completa justiça.
O tempo é ainda de fezes, maus poemas,
alucinações e espera.
O tempo pobre, o poeta pobre
fundem-se no mesmo impasse.

Em vão me tento explicar, os muros são surdos.

Sob a pele das palavras há cifras e códigos.
O sol consola os doentes e não os renova.
As coisas. Que tristes são as coisas,
consideradas sem ênfase.

Vomitar esse tédio sobre a cidade.
Quarenta anos e nenhum problema
resolvido, sequer colocado.
Nenhuma carta escrita nem recebida.
Todos os homens voltam para casa.
Estão menos livres mas levam jornais
e soletram o mundo, sabendo que o perdem.

Crimes da terra, como perdoá-los?
Tomei parte em muitos, outros escondi.
Alguns achei belos, foram publicados.
Crimes suaves, que ajudam a viver.
Ração diária de erro, distribuída em casa.
Os ferozes padeiros do mal.
Os ferozes leiteiros do mal.

Pôr fogo em tudo, inclusive em mim.
Ao menino de 1918 chamavam anarquista.
Porém meu ódio é o melhor de mim.
Com ele me salvo
e dou a poucos uma esperança mínima.

Uma flor nasceu na rua!
Passem de longe, bondes, ônibus, rio de aço do tráfego.
Uma flor ainda desbotada
ilude a polícia, rompe o asfalto.
Façam completo silêncio,
paralisem os negócios,
garanto que uma flor nasceu.

Sua cor não se percebe.
Suas pétalas não se abrem.
Seu nome não está nos livros.
É feia. Mas é realmente uma flor.

Sento-me no chão da capital do país às cinco horasda tarde
e lentamente passo a mão nessa forma insegura.
Do lado das montanhas, nuvens maciças avolumam-se.
Pequenos pontos brancos movem-se no mar, galinhas em pânico.
É feia. Mas é uma flor. Furou o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio.

Artigo

Que tal um bronze?
A cura da depressão na ponta da língua.
por Fred Loal

D
e  luto...